Toda a evolução
tecnológica ainda não deu conta de encontrar outra forma de trazer
bebês ao mundo, a não ser pelo gestar e parir, tarefas compativeis,
ao menos por enquanto, exclusivamente ao corpo feminino. Assim,
durante muito tempo, o ser mulher confundiu-se com o ser mãe.
Ainda
vivemos em busca da igualdade de direitos entre os sexos, e apesar
das grandes lutas femininas, ainda temos várias questões pendentes
nesse mundo dividido entre o que é papel de homem e o que é papel
de mulher.
O modelo
"tradicional" de familia trazia esses papéis bem
delimitados, porém as lutas feministas trataram de desconstruir
muitos desses papéis e nos trouxeram alguns dilemas, um deles, ainda
atualíssimo é a escolha (ou não) pela maternidade.
Ser mãe
é um ato permeado de significados considerados naturais, mas que
encharcam de culpa aquelas que não se percebem assumindo esse papel.
Muitas idéias equivocadas surgem dessa concepção de que a
maternidade é o papel natural da mulher. Uma delas é o tal instinto
materno, que leva muitas mulheres a crer que saberão exatamente o
que fazer quando tiverem seu filho nos braços. Saberíamos se
vivessemos como nossas tetravós, mas em um mundo onde a tecnologia
dominou o mais simples movimento humano, o tal instinto não se
manifesta, ou não ajuda muita coisa.
O fato é
que começamos a aprender a sermos mães muito antes de termos tomado
uma decisão consciente sobre a maternidade. Sempre que vejo uma
menininha com seus dois ou três anos de idade, carregando uma boneca
bebê, muitas vezes maior do que ela própria, esse assunto vem a
minha mente.
A
maternidade, a meu ver é uma construção. Passa por escolhas, mesmo
que inconscientes. Passa pelo desejo de afirmação de identidade,
que no caso da grande parte das mulheres que conheço, essa afirmação
só aconteceu no exercício de ser mãe.
Gestar,
parir, nutrir, cuidar, são atos de doação, que embora necessitem
de aporte biológico, dependem e muito do suporte social que a mulher
recebe para que possa exercê-los.
Perdemos
muito do nosso instinto. As dúvidas? Ah! As dúvidas são terríveis,
angustiantes, somos dominadas pela culpa de nossas próprias
escolhas, e a onipotência materna nos leva a querer dominar o mundo
a nossa volta apenas para deixá-lo seguro para nossas crias.
Ledo
engano. Não temos controle sobre o outro bebê que vai morder nosso
filho na creche, ou sobre o coleguinha que cometerá bullying contra
nosso filho porque também cresce em um ambiente cheio de violência.
Não temos controle sobre como nosso filho vai perceber nossa atitude
de amor e proteção, (será que ele não se sentirá sufocado?) nem
temos controle sobre quem dará o primeiro beijo.
O que
fazer quando seu filho acorda com 40 graus de febre no dia em que
você tem uma reunião importantíssima com o presidente da empresa
em que você trabalha?
Insisto
mais e mais: a maternidade deve sim tornar-se uma escolha consciente,
e quando digo isso não pretendo dizer que é uma escolha fácil.
Envolve afetos, sonhos, desejos, outra(s)vidas(s).
E pra você, como foi ou está sendo a decisão de ser mãe?
Sugestão
de filme: Não sei como ela consegue, com a Sarah Jessica Parker.
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